segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A pressão dos Guarda-redes

A posição de Guarda-redes, na generalidade das modalidades, mas essencialmente no Futebol, é, provavelmente, a posição à qual se exige a perfeição. Não por ser uma posição reconhecida ou valorizada, mas porque a sua importância em jogo é extrema, é essencial para a concretização ou não, daquele que é o momento mais esperado do jogo, o “GOLO”! Ao Guarda-redes,  pede-se que seja o herói de uns e o vilão de outros.
No entanto, a pressão do Guarda-redes vai muito mais além daquele que é o seu papel por natureza.
Ao Guarda-redes, pede-se frieza, mas acima de tudo segurança, pede-se também coragem e bravura, muitas vezes até loucura.
Pedimos-lhe que seja comunicativo, um líder da defesa e da própria equipa, mas também que seja o mais calmo e o que lide melhor com os momentos de maior pressão durante o jogo.
Exigimos-lhe concentração máxima e eficácia a 100%, que decida bem e que execute ainda melhor, que defenda bem a baliza, mas que também saia no tempo certo aos cruzamentos, que consiga gerir bem o espaço entre ele e a linha defensiva, mas que, também,  seja exímio no 1×1 com os avançados.  Pedimos-lhe para que saia a jogar curto em posse, mas de seguida, pedimos que jogue longo com precisão.
Exigimos tudo e damos tão pouco!
No entanto, a pressão do Guarda-redes não é essa, isso é a vida que nós escolhemos, é a nossa missão, não falhar e contribuir assim para o sucesso da equipa.
O problema é quando esta exigência não é acompanhada de um treino devidamente especializado e de um acompanhamento regular e profundo. O problema é quando o feedback só aparece quando erramos e ainda por cima negativo, o problema é quando não elogiamos a eficácia da mesma maneira que criticamos a ineficácia.
O problema é quando a exigência é totalmente desajustada à idade do Guarda-redes, ao seu nível técnico, ao seu contexto desportivo.
Talvez nunca tenhamos pensado nisso, mas já pensaram o que é ter 8/9 anos e ter de bater um pontapé de baliza, com 13 jogadores à nossa frente, com diversas vozes a aconselhar-nos o que fazer, não ter força nos músculos para levantar a bola, ter consciência disso e ainda ter o árbitro a olhar para nós, pedindo que nos apressemos? Pois é, para um Guarda-redes desta idade, isto é pressão.
Muito mais exemplos poderia dar, mas deixo-vos apenas este exemplo do nosso quotidiano. Imaginem que estão na escola, ou mesmo no trabalho e vos pedem para fazer algo para o qual nunca vos ensinaram, não vos deram ferramentas, não estão física nem mentalmente preparados para tal, mas é vos sugerido que não falhem. Como se sentiriam? A vida de grande parte dos jovens Guarda-redes é assim, uma pressão constante com pouco ou nenhum apoio para além da família, treinadores e colegas mais conscientes.
Quanto aos profissionais, a conversa é outra, não lhes falta nem treino nem ferramentas para saber o que fazer em campo, mas o problema é o mesmo, são humanos, estão sujeitos a uma pressão ainda maior, pois cada erro deles pode valer “milhões”, mas, no entanto, o tratamento é o mesmo. Se defendem são os melhores, se erram,  seja na decisão ou na execução, tornam-se nos piores.
A vida é feita de decisões e a carreira de um Guarda-redes é feita de constantes decisões com um alto preço a pagar e a decisão mais simples é aquela que é tomada todos os dias no balneário.
“ Ao calçar estas luvas e ao vestir esta camisola diferente, sei da pressão que cai sobre mim, mas esta paixão é superior a qualquer pressão ou desilusão. Vou acertar e vou falhar, mas vou voltar sempre a calçar”.

Fonte: www.facebook.com/futeboldeformacao Treinador: João Santos (adaptado) 

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